terça-feira, 20 de outubro de 2009

NOVOS ALAGADOS -ENTREVISTA (Shirley e Thais)



NOME: Joelma

Como era a os Novos Alagados antes e o a senhora acha que melhorou?
Os Novos Alagados melhorou bastante agora depois desses projeto de infra-estrutura. Aqui antigamente era casas construídas com escoras segurando todas elas. Tinha muitas dificuldades. As dificuldades de se locomover, as estradas eram de barro. Todo era tão difícil, agora mudou muito mesmo.

NOVOS ALAGADOS II


Em alguns lugares do Brasil a expressão “a casa cai” é só uma metáfora para se referir a uma situação de perigo. Mas em Salvador, na Bahia, mais precisamente no bairro de Alagados, a expressão é interpretada ao pé da letra. Lá, as casas caem, literalmente.
Hoje, com cerca de três mil palafitas a situação é branda se comparada com os anos 1960 e 1970. À época, Alagados era a maior favela do Brasil, com cerca de 100 mil habitantes. Mesmo hoje, os perigos desse tipo de construção continuam presentes. Para alguns moradores que já deixaram as palafitas, será difícil esquecer os dias em que a “casa caiu”.
Dos sete anos em que residiu em uma palafita no bairro de Alagados 4, Andréa Oliveira Teles a refez 14 vezes. Ou seja, ela reconstruía sua palafita duas vezes ao ano. “Isso não é vida pro ser humano. É muito sufoco”, diz. Dos utensílios domésticos que Andréa tinha só lhe restou a roupa do corpo. “Dá última vez, a maré destruiu tudo”.
A maré que destrói as palafitas é também a que separa os casais. Cansada do sofrimento e da agonia de conviver com o imprevisto, Andréa desistiu de refazer pela 15° vez a sua palafita. Foi para casa dos pais, mas teve que deixar o marido, José Carlos Ferreira, para trás. “Ele foi morar com o pai, e eu vim com nossa filha pra casa de minha mãe”, conta.

Não bastasse a angústia de esperar o dia em que a água invadisse a palafita, os moradores também enfrentam o estigma da falta de recursos básicos de uma moradia. Banheiro, praticamente não existe. Tudo é na base do improviso. “A gente faz um buraco na madeira e aí cai na água”, conta Andréa. Algumas décadas atrás, por exemplo, a população economizava com o gás de cozinha. Não que a situação fosse melhor naqueles tempos, afinal, o gás era proveniente da combustão do lixo que foi usado para aterrar algumas áreas de Alagados. “Eles colocavam um tubo que conduzia o gás produzido pela combustão do lixo e usavam em suas casas”, conta César Ramos, gerente de projetos da Secretaria de Habitação do Ministério das Cidades.
A realidade em Alagados começa a mudar vagarosamente. No final dos anos 1970, após um robusto investimento do governo federal através do extinto programa do Banco Nacional de Habitação (BNH), as palafitas foram eliminadas. Porém, não tardou para que uma nova invasão ocorresse. Hoje, aos poucos, as famílias são retiradas das palafitas e transferidas para casas de alvenaria, construídas com recursos do Estado, União, Banco Mundial e BID.
Em Alagados 4 e 5, regiões atingidas pelo programa Habitar BID/Brasil que tem o apoio do PNUD, 121 famílias dormem mais tranqüilas, sem que o pesadelo da água invadindo a palafita atrapalhe o sono.
Experiência vivida por Silvana Corrêa dos Santos ilustra bem o porquê das noites de pesadelo. “Estávamos dormindo, de repente deu um estalo na cozinha. Metade da palafita havia desabado, inclusive uma parte do quarto dos meninos, que correram para parte da sala que continuava de pé”. Mesmo assim, sem ter para onde ir, ela reconstruiu a palafita, comprou novos móveis, fogão e geladeira que havia perdido no acidente.
Não demorou muito para ela enfrentar problema igual. Certa tarde, ainda no trabalho, Silvana conta que ligaram avisando que a água estava subindo. “Chovia muito naquele dia, e quando cheguei só deu tempo de salvar a geladeira, a cama e o sofá”, relata. O fogão, caiu novamente.
Silvana vive hoje em um dos conjuntos do programa Habitar/Brasil. Debaixo do teto de concreto e da parede de alvenaria, ela se sente muito mais segura. “Mudou muito. Mas ainda falta policiamento”, afirma. Polícia, aliás, que ela teme mais do que a maré que levou os seus bens. “Quando eles chegavam, era bala pra todo o lado”.
Além das casas, o projeto também oferece aos moradores cursos sobre reaproveitamento de alimentos, educação ambiental, entre outros. Segundo Glória Novaes, coordenadora da área social do programa, a idéia inclui a utilização do espaço público, como as praças, para entretenimento. “Passamos filmes para os moradores, fazemos gincana ecológica e outras atividades”.
Os riscos
Das moradias precárias, a palafita é a que apresenta os maiores riscos à vida, de acordo com o secretário de Habitação do Ministério das Cidades, Jorge Hereda. Também pode ser classificada como imprevisível, uma vez que é difícil de prever quando a estrutura vai desabar.
As pontes improvisadas, feitas de madeira, que servem como meio de locomoção para os moradores, são tão “firmes” como as palafitas. Quando alguém cai, não é água que absorve o impacto, mas sim o esgoto. “As pontes são muito precárias. É um dos problemas para quem vive nas áreas”, diz Hereda.
O avanço das palafitas nos meios urbanos é o retrato de como o solo das cidades é disputado, segundo o secretário de Habitação. “Esse é um aspecto perverso que caracteriza a ocupação”. Porém, há locais onde os riscos de habitar uma palafita é menor, como, por exemplo, nas comunidades ribeirinhas da região amazônica. Para Hereda, esse é um aspecto cultural e não uma necessidade.
Não há no Brasil números exatos sobre quantas pessoas vivem em palafitas. Mas há um consenso entre os que conhecem esse tipo de habitação: que um dia, “a casa cai”, literalmente.


FONTE: MENDES, Chico. Alagados troca suas palafitas por casas em terra firme. Portal do Subúrbio. 21/06/09

NOVOS ALAGADOS I


PROJETO NOVOS ALAGADOS


O Projeto Novos Alagados implementa ações de recuperação físico-ambiental da Enseada do Cabrito na Bahia de Todos os Santos e de promoção social dos moradores deste assentamento espontâneo, que vivem expostos a uma situação epidemiológica de alto risco, com índices de morbidade e mortalidade elevados e grave quadro de degradação do meio ambiente. O projeto integra o componente Saneamento Básico do projeto metropolitano, financiado pelo Banco Mundial.
Coordenado pela Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Salvador- CONDER, conta com a co-participação da AVSI - Associação de Voluntários para o Serviço Internacional, da Fundação D. Avelar Brandão Vilela e da Arquidiocese de Salvador, que procuraram o Governo com uma proposta de intervenção, preparada com a comunidade ao longo de dois anos.
Para operacionalizar e coordenar o projeto, a CONDER criou o Grupo de Trabalho Novos Alagados, do qual participam orgãos governamentais, agentes privados e entidades comunitárias. A execução das obras fica a cargo do orgão promotor de habitação no Estado, a URBIS - Habitação e Urbanização da Bahia S/A, e outros orgãos públicos como as Secretarias Estaduais de Saúde, Trabalho e Ação Social, Educação e Segurança Pública, além da UFBA e do IBAMA. Da sociedade organizada participam a Bahiapesca, SEBRAE, SENAC, SESI E SENAI e entidades comunitárias (Sociedade Primeiro de Maio e Liga de Futebol de Araçás).
Do ponto de vista de integração das ações, o projeto visa conciliar a proteção do meio ambiente com a melhoria das condições de vida da população residente. Pretende-se, portanto, transferir 700 famílias que residem em palafitas para loteamentos construídos em áreas contíguas à ocupação e para uma faixa de terra ao longo da enseada; implementar as infra-estruturas e os serviços coletivos essenciais; regularizar a posse da terra; desadensar e requalificar a ocupação consolidada; recuperar o manguezal originário, hoje totalmente comprometido.
A Cooperativa Habitacional organiza a mão-de-obra da comunidade para a melhoria das habitações (instalação de banheiros, solução das situações de risco e insalubridade), através do sistema de autoconstrução orientada.
O programa de emprego e renda, baseado no fortalecimento da organização comunitária e na inserção social dos moradores de Novos Alagados, é também uma estratégia de integração setorial, estruturada em três linhas: uma ligada à questão ambiental, com atividades de reciclagem de lixo, recuperação do manguezal; a segunda, promovendo o reforço da economia familiar, através de projetos de lavanderia coletiva, cooperativa de pesca, confecções e artesanto; e por último, são apoiadas e fortalecidas inciativas já em andamento na comunidade, como os projetos do centro de formação profissional, gráfica comunitária e marcenaria.
Além da recuperação física e ambiental, as intervenções realizadas pelo Projeto Novos Alagados permitem estabelecer uma relação entre vários agentes, possibilitando uma forma articulada e integrada de intervir no espaço urbano e de transformar o comportamento dos moradores em relação ao seu habitat.

FÁBRICA FATBRÁZ ENTREVISTA (Beatriz, Paloma, Lorrane, Deise, Taisa, Sidineia, Jackson, Liliam, Márcia, Adjane, Izenilda)

ENTREVISTA AGOSTO DE 2009

NOME: Sr. Edevaldo Conceição dos Reis
IDADE: 69 anos

Como era a Fatbraz no seu tempo?
Era uma fábrica de pano, muito bonita e cheia de gente empregado. Tinha várias máquinas perigosas. Era e ainda é uma fábrica muito grande. Eu dava uma força ajudando lá. Muitas gentes limpando o chão, deixando tudo limpo e qualquer coisa que me pediu eu fazia. Foi uma fábrica muito boa, ajudou muita gente.

O que mudou?
O que mudou foi que a fábrica faliu, algumas pessoa ficaram como medo, porque era uma fábrica muito perigosa, morria muita gente, outros saíram porque não tinha mais dinheiro para pagar os empregados e hoje é um perigo pra muita gente que chega do trabalho tarde, e virou um lugar para os drogados fumar, lugar de pessoas fazer o que não deve.
Agora um italiano chegou e comprou essa fábrica, é que ta dando um jeito, mas muitas pessoas não gostaram que ele chegou aí e chamaram até reportagem para dar um jeito.

O que deve ser feito para preservar?
Deve ser feito todos os moradores, colaborar e previnir a fábrica, para que venha e nos ajude novamente.
Os trabalhadores estão fazendo a sua parte falta o povo “a comunindade”, para que venha previnir a fábrica.
Devemos preservar assim para que os nossos filhos e netos possam arranjar um emprego na FATBRÁZ.

FÁBRICA FATBRAZ


A história do primeiro bairro do subúrbio ferroviário, Plataforma, tem relação com a luta de independência do Estado. O marco do seu surgimento é a chegada do príncipe holandês Maurício de Nassau que desembarcou na praia, em abril de 1638. Época também do embate na tentativa holandesa de invadir a cidade, durante o qual a Capela de São Brás, erguida naquele século, serviu de refúgio.
O principal acesso é a Avenida Afrânio Peixoto, conhecida como Suburbana, inaugurada no governo de Luís Viana Filho em novembro de 1970. A via com 13,4 quilômetros se estende pelo subúrbio ferroviário, ligando Paripe, Lobato, Plataforma, Itacaranha, Escada, Praia Grande, Periperi e Coutos. As comunidades que surgiram em torno de Plataforma também pertencem ao bairro como São João do Cabrito, São Braz, Alto do Bariri, Conjunto Senhor do Bonfim e Planalto Real, totalizando cerca de 50 mil habitantes, segundo dados da Administração Regional (AR-17) que cuida de grande parte do subúrbio ferroviário.
Morador antigo, o ferroviário aposentado José da Silva Galvão, 72 anos, diz que o nome do bairro foi originado de uma balsa no formato de uma plataforma flutuante que fazia a travessia para a Ribeira na época em que outros meios de transportes não existiam. “Ouvia do meu amigo Neco, que com mais de 80 anos me contava as histórias daqui”.
As fábricas instaladas na região: São Braz (da família Almeida Brandão) e União Fabril – também conhecida como Fatbrás quando as terras passaram para as mãos da família Martins Catharino – foram responsáveis pelo aumento da população até o século XX. Ao redor delas nasceu a Vila Operária, conjunto de casas que serviam de residência aos funcionários até a decadência do ramo têxtil, com a descoberta do petróleo, nos anos 50.
É nesta fase que a vista encantadora da Baía de Todos os Santos, dá espaço a uma preocupação que ronda a vida da população local. Boa parte dos moradores continua sendo inquilinos dos Martins Catharino e paga por isso. A Associação de Moradores de Plataforma (Ampla), no final de 2004, entrou com uma ação de usucapião coletivo. Segundo o advogado José Amando, o processo está parado. “Dependemos de um documento com fé pública com a relação das pessoas que estão enfrentando este problema”.
O coordenador de Patrimônio da prefeitura, Renato Sá, alega que o contrato de arrendamento inibe o usucapião. “A prefeitura não pode interferir. Para garantir a propriedade pelo tempo, a ocupação tem que ser à revelia do proprietário”. A casa onde seu Galvão mora foi comprada há 9 anos. “Lembro que pagava aluguel de 80 cruzeiros. Mas muita gente aqui deixou de pagar ou paga em juízo”. É o caso de Fátima Maria Ramos, 53 anos, que entrou na Justiça há mais de 13 anos e continua depositando, em juízo, cerca de R$ 50 por mês.


FONTE: OLIVEIRA, Meire. O marco zero do subúrbio. A TARDE. 12/10/07